Resposta ao artigo 'Solidariedade?'

Autor: 
Aldo Rebelo
Data de publicação: 
04/04/2009
Fonte: 
FBV

A propósito do artigo de Jessé Souza, com o título "Solidariedade?", publicado na edição de 03 de abril deste jornal, cabe-me oferecer o ponto de vista de que o estado de Roraima tem nestes dias um fato a comemorar e outro a lamentar. Comemoramos com todos os brasileiros de boa-fé a demarcação da terra indígena de Raposa-Serra do Sol, garantia constitucional pelo qual tanto nos batemos em defesa dos índios. A lamentar está o fato de a demarcação ter sido feita à revelia do processo histórico, opondo brasileiros como se inimigos fossem, quando a grandeza do território, e mais que isso, o interesse nacional mais amplo aconselhavam uma solução que acomodasse todos os irmãos envolvidos no conflito. Os não índios reivindicam menos de 5% da área que foi reservada aos índios.

O articulista me aconselha a cuidar dos problemas de São Paulo, entre estes os dos índios guaranis que sobrevivem a duras penas na capital do estado. Já estive na aldeia, testemunhei a penúria da tribo, mas me chamou a atenção a rigorosa ausência de qualquer organização, inclusive da imprensa, para defender aqueles brasileiros tão desamparados. Não há uma só ONG a pugnar pelos índios que vivem em São Paulo, talvez porque as diminutas terras que ocupam não sejam ricas em recursos naturais nem se estendam em faixa de fronteira que possa ser amanhã declarada território autônomo e apartado da Nação e do Estado brasileiros, como tememos que vá ocorrer em Roraima.

Minha visita atual a Roraima, antes de ser uma afronta aos índios e seus paladinos e ao Supremo Tribunal Federal, insere-se na defesa intransigente de minhas idéias, que, em verdade, têm lastro na formação do Brasil e se perpetuaram nas iniciativas de José Bonifácio, Marechal Rondon e Darci Ribeiro na proteção e integração do índio à sociedade nacional. Não é a primeira vez que venho aqui.

Já sabíamos que em Roraima implantou-se a extravagância de índios, brancos, caboclos, pardos, negros ou mulatos não poderem conviver fraternalmente na mesma terra. Casais foram apartados. Moradores octogenários são expulsos do lar que seus antepassados construíram há mais de um século. A novidade que o articulista parece querer introduzir é a de impedir que eu circule em Roraima por ser deputado de São Paulo. Este é o perigo de uma corrente de pensamento antinacional que nega a grandeza do Brasil e a generosidade do seu povo. O País acolheu imigrantes de todos os cantos do mundo e não tem porque agora discriminar brasileiros em seu torrão natal.

Aldo Rebelo, alagoano e deputado federal pelo PCdoB-SP

Folha de Boa Vista, 04/04/2009, Opinião.