O anúncio da vinda do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP) a Roraima, no domingo, é carregado de significado. O primeiro deles trau-se por uma afronta aos 10 ministros da Corte Suprema do País, que decidiram pela constitucionalidade da terra indígena Raposa Serra do Sol.
A outra interpretação é que ele vem trazer o desprezo às populações indígenas de Roraima, que depois de três décadas de luta conseguiram fazer valer a Constituição Federal. Vir aqui em "visita de solidariedade" às autoridades roraimenses é mais que afronta.
Rebelo deveria estar preocupado com os caos em São Paulo: o trânsito maluco, a violência, o rio Tietê, a poluição do ar, a corrupção gigantesca de lá (cujo símbolo maior é Maluf).
Se preferir questão indígena, o parlamentar paulista deveria estar muitíssimo preocupado com os índios Tupi-Guarani de lá, últimos remanescentes das populações tradicionais que acolheram com ouro e pau-brasil a caravela de Cabral no achamento do Brasil.
Até as pedras sabem que os Tupi-Guarani sofrem e penam por abandono governamental, mas o "comunista" de lá está preocupado com os neo-coronéis do agronegócio daqui, que insistem em não querer respeitar a Suprema Corte e esperneiam para não deixar a terra que eles ocuparam sem pagar nada, com isenção de impostos, tapete vermelho, mirra e ouro oferecidos pelo governo local.
Se a reserva yanomami e a reserva Raposa Serra do Sol fossem entregues ao agronegócio, a multinacionais do minério, a japoneses, a gregos e troianos, todos (políticos e elite econômica) estavam brindando com seus uísques e champanhes importados.
Mas, como se trata da garantia da terra aos índios e o domínio irreversível da União, eles não admitem, assim como faz o deputado paulista que deveria estar preocupado com sua selva de pedra cheia de problemas que afligem o Brasil e atentam contra a verdadeira soberania brasileira, diante do entreguismo econômico e financeiro.
Aldo Rebelo foi citado algumas vezes no voto-delírio do ministro Marco Aurélio, que fez em seu voto uma técnica conhecida de estudantes preguiçosos e relapsos: uma "colagem" ou Ctrl C+Cltl V.
O ministro, em seu discurso inflado que transpirava sabedoria acima dos oito ministros que já tinham votado, pegou vários textos anti-indígenas e falso nacionalistas (inclusive do próprio "comunista") e "colou" no seu voto.
Fez "Control C/Control V" de opiniões publicadas em jornais paulistas e trechos de comissões do Senado e da Câmara (que nunca se preocuparam em contratar um antropólogo) enviadas insistentemente para Roraima, como Portugal fazia com o Brasil colônia. Achou que estava redescobrindo a pólvora do falso nacionalismo.
Rebelo e Aurélio se merecem. Assim como São Paulo merece o Tietê, vergonha mundial a apontar o que a agressão a meio ambiente é capaz de produzir; e mostra, na sala de estar paulista, a incompetência de lidar, sequer, com meio ambiente e com índios remanescentes que pedem socorro.
O deputado Rebelo faria um bem a Roraima se fosse cuidar de seu Estado, que massacra estados pequenos economicamente como nosso, já tão pisoteado por falsos nacionalistas e saqueados por corruptos assanhados.
Jessé Souza, articulista
Folha de Boa Vista, 03/04/2009, Opinião.